As crianças desaparecidas
Na zona rural da Alemanha, Sasha teve tempo de se adaptar à vida e a outra nova escola, mas Tetyana está achando a adaptação um pouco mais difícil.
Em seu apartamento, ela explica que seu filho mais velho ainda está na Ucrânia esperando ser convocado para lutar a qualquer momento. Tetyana não quer nada além de ir para casa e para o marido, mas Kupyansk está sob fogo pesado novamente.
No final de abril, mísseis russos destruíram o museu de história local, matando duas mulheres. Antes disso, a velha escola de Sasha na cidade foi seriamente danificada quando mísseis caíram nas proximidades.
Oito meses após ele e as outras crianças serem levados de lá, cinco ainda permanecem em território controlado pela Rússia. Tatyana Semyonova, a diretora da escola onde foram parar, confirmou a informação.
Repórter da BBC Sarah Rainsford conseguiu falar com diretora da escola por telefone
Fiquei surpresa por ela ter concordado em falar, mas o número russo que usei deve tê-la confundido. Assim como minhas perguntas.
A diretora alegou que ninguém havia entrado em contato sobre as cinco crianças, o que sabemos não ser verdade, e insistiu que ela os liberaria "imediatamente" assim que seus responsáveis legais viessem buscá-los.
Mas isso é improvável: várias fontes me dizem que as crianças são tratadas como "órfãos sociais", cujos pais ainda estão vivos, mas não podem cuidar deles.
Quando perguntei por que a Rússia poderia levar crianças sem permissão da Ucrânia, mas exigir uma papelada para devolvê-las, Tatyana Semyonova foi curta na resposta.
"O que isso tem a ver comigo? Eu não os trouxe aqui."
No site da escola que ela comanda em Perevalsk, Sasha identificou mais duas das crianças desaparecidas de Kupyansk entre as fotos disponíveis: Sofiya e Mikita, de 12 anos, estão fantasiadas e enfileirados em homenagem ao Exército russo.
Pergunto à mãe de Sasha o que ela acha do mandado de prisão emitido para o presidente da Rússia.
"Não apenas Putin, mas todo o seu pessoal — todos os comandantes — deveriam ser julgados pelo que fizeram com as crianças", responde Tetyana Kraynyuk, sem hesitar.
"Que direito eles tinham [de levar as crianças]? Como esperavam que fôssemos recuperá-las? Eles simplesmente não se importam."
Produção de Mariana Matveichuk
Fotos de Matthew Goddard e Sarah Rainsford
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/clwdlwg917vo